A Turma de Pesquisadores Wajãpi
Como nosso trabalho começou:
Em 1996 os chefes começaram a ficar preocupados com os nossos conhecimentos e práticas culturais porque os jovens estavam se interessando muito pelos conhecimentos e jeito de viver dos não-índios. Os chefes pensaram que precisava um trabalho para o fortalecimento cultural Wajãpi. Os chefes pediram apoio para o Iepé, e juntos tiveram a idéia de fazer formação de pesquisadores wajãpi. O Iepé encaminhou um projeto à Petrobras, para começar o trabalho. E o IPHAN apoiou com o Plano de Salvaguarda. Então os chefes escolheram 20 jovens de 11 aldeias para participarem do 1° encontro de pesquisadores Wajãpi, que aconteceu em janeiro de 2005 quando fizemos também pela primeira vez pesquisas de campo. Em 2005 também teve a 1° oficina de pesquisadores e o 1° curso de formação básica. Em 2006 tivemos a 2° e 3° oficinas e pesquisa, o 2° curso de formação básica e teve também o primeiro acompanhamento de pesquisadores nas aldeias.
No primeiro encontro de pesquisadores, cada pesquisador escolheu um tema diferente e importante para pesquisar. Por exemplo: jeito de conhecer a roça, jeito de curar as doenças, jeito de se comunicar, narrativas, jeito de fazer resguardo, jeito de fazer construção, jeito de faze trocas, jeito de conhecer as árvores.
Cada pesquisador fez um planejamento de perguntas para sua pesquisa. Conversamos primeiro com vários chefes (jovijãgwerã), gravamos, fazemos transcrições e anotações das entrevistas. Depois nós organizamos e sistematizamos as informações da pesquisa. Depois escrevemos textos com o resultado das pesquisas, em língua Wajãpi e em português.
Durante os acompanhamentos vamos para aldeias distantes para conversar com jovijã que moram muito longe. Durante as oficinas nós fazemos pesquisas coletivas, como sobre a organização social Wajãpi (Jane reko mokasia).
Nas oficinas fazemos atividades para aprender a sistematizar os conhecimentos, a fazer explicações detalhadas e gerais, aprendemos a fazer interpretações e reflexões e a fazer aparecer a teoria. Nas oficinas nós também aprendemos a fazer tradução. Nós aprendemos que não podemos traduzir uma palavra pela outra porque por trás das palavras existem idéias diferentes. Aprendemos que para traduzir a lógica wajãpi para os não-índios, precisamos fazer explicações bem detalhadas.
A pesquisa é muito importante para nós. È importante porque queremos fortalecer a nossa história e a história dos nossos antigos. Também para ensinar e transmitir o conhecimento para nossos filhos e netos no futuro. A pesquisa serve para produzir materiais didáticos para a escola e livros de leitura para as aldeias. A pesquisa ajuda a organizar o conhecimento e também a comparar o jeito de viver entre os Wajãpi e outros grupos étnicos. Serve também para explicar bem para os não-índios que trabalham com os Wajãpi, para diminuir o preconceito e para defender os interesses dos Wajãpi. A pesquisa serve para ajudar na política.
Aprendendo com a pesquisa: depoimentos de pesquisadores Wajãpi
Eu pesquisei os nomes das árvores, porque eu não sabia muita coisa antes de descobrir pela pesquisa, fazendo entrevistas, anotações. E isso eu descobri com os velhos que contaram para mim. Eu não sabia fazer anotação, organizar, fazer tabela, mas depois eu aprendi. A gente não aprende as coisas logo na primeira vez. O acompanhamento da minha pesquisa na aldeia me ajudou a organizar a pesquisa, me ensinou a escrever sobre a pesquisa. Eu também aprendi a fazer comparação entre o que anotei quando entrevistei diferentes jovijã kõ, nossos chefes, os mais velhos, e vou continuar até terminar... Para contar para os meus filhos no futuro para eles aprenderem também. Quando eu for velho, aí eu vou contar para eles. Se eu não conheço, como meus filhos e netos vão conhecer as árvores? – Kupena.
Quando eu não fazia pesquisa eu não sabia o que nossos avôs tinham visto no caminho que tomaram rumo à borda da terra. Eu também não sabia as coisas diferentes que os outros chefes contaram. Agora eu consegui aprender quando fui conversar com eles – Japu.
Antes eu não sabia muitas coisas que então eu descobri na minha pesquisa sobre remédios de caça. Eu fui entrevistar os velhos. Anotei muitas coisas no caderno e fiz tabela para organizar a minha pesquisa. Eu fui até outras aldeias para entrevistar outros jovijãgwerã kõ – Marãte.
Meu primeiro tema de pesquisa foi sobre iniciação dos rapazes tanõgarerã. Eu terminei essa primeira pesquisa, embora falte descobrir mais coisas e entrevistar mais os velhos. Essa pesquisa foi muito importante para mim porque hoje em dia nós não fazemos esse tipo de iniciação. Agora eu escolhi outro tema: a festa de Jõwaronã, que é também muito importante pra mim. Eu não sabia de nada sobre essa festa, mas agora estou começando a aprender os cantos e consegui cantar um pouquinho. Vou conseguir aprender todos os cantos. Mas até agora eu nunca vi nem participei dessa festa – Jawaruwa.
A minha pesquisa é sobre um tipo de kasiri, o pajawaru. Antes eu não sabia que existia esse tipo de caxiri. Eu descobri muitas coisas fazendo a pesquisa. O que se faz antes de preparar, onde se prepara esse tipo de kasiri, eu também aprendi a preparar o pajawaru. As senhoras gostaram muito de me explicar sobre pajawaru – Ana.
Minha pesquisa é sobre o jeito de fazer sinal. Antes, eu não sabia nada sobre isso, hoje eu sei um pouco. Por isso quero continuar, para entender o conhecimento dos velhos. Eles não viver mais 20 ou 30 anos e quero aproveitar para entrevistar os chefes sábios. Essa minha pesquisa é muito importante para fortalecer a nossa cultura dos Wajãpi – Patire.
As rezas de cura que eu pesquiso são importantes para nós, por isso gostei muito da minha pesquisa. É bom conseguir aprender enquanto os velhos estão vivos. Ainda vou continuar pesquisando, porque ainda não terminei de conversar. Quando terminar de pesquisa esse tema eu vou achar outro tema para pesquisar de novo. No futuro eu vou fazer muitas listas sobre a minha pesquisa – Sava.
Ver informação completa no 4º Caderno de Pesquisa Wajãpi (PDF 2,6 MB).